O delegado nega ter cometido assédio. A policial relatou que, ao chegar ao gabinete do delegado em Cidreira, ele teria a segurado pelo braço e tentado beijá-la. Segundo o relato, Ractz disse: “me dá só um beijinho”. Ela afirma ter se afastado e saído chorando. Mais tarde, ainda conforme o inquérito, a policial enviou ao delegado uma mensagem dizendo estar constrangida com o que havia acontecido. “Eu tô muito mal com o que ocorreu hoje (...). Me senti constrangida", diz na mensagem.
As respostas do delegado constam no relatório: “Fica tranquila.” “Não te preocupa.” “Acalma.” “Não muda nada.”
Segundo documento elaborado pela Corregedoria, essas respostas reforçariam o indício de que “algo de fato ocorreu” dentro da delegacia. No mesmo dia, a partir da abordagem, a policial decidiu gravar o trajeto da viatura que fazia o deslocamento com o delegado no fim da tarde. O áudio foi anexado e também transcrito no inquérito. Alguns trechos do diálogo gravado constam na investigação: "Tu é uma mulher apaixonante"; "Eu queria te dar um be... (inaudível)". A policial responde, segundo o inquérito: "Eu fiquei constrangida". "O senhor é meu superior".
Para a Corregedoria, o teor do áudio é compatível com a versão de que houve tentativa prévia de beijo dentro do gabinete. No documento consta que a palavra da vítima possui mais força em casos de assédio sexual e que, nesse caso, ela é corroborada pelos depoimentos e pelo que se extrai das mensagens de celular. "Se extraem indícios que conferem verossimilhança à versão da vítima de que o investigado a tentou beijar nas dependências da Delegacia de Polícia de Cidreira na tarde do dia 22/07/2024", diz o responsável pelo inquérito, delegado Silvio Kist Huppes, em trecho ao qual o g1 teve acesso.
Ao todo, foram ouvidas 19 pessoas na investigação. No interrogatório, Ractz negou ter tentado beijar a policial. Ele afirmou que: a aproximação entre os dois era “profissional e amistosa”; a gravação entregue pela policial “representa apenas três minutos de uma conversa de mais de vinte e cinco”; se houve beijo próximo ao rosto foi “acidental”; nunca agiu com intenção sexual. Ele disse ainda que “gostava da companhia” da policial, mas que isso não representaria interesse íntimo. Procurada pela RBS TV, a advogada Thais Constantin, que representa o delegado, disse que "não se manifestará sobre detalhes", em respeito "à proteção da vítima, considerando a natureza do delito, tema que exige máxima responsabilidade, cautela e sensibilidade".
Conclusão da polícia - Em outro trecho, o delegado corregedor concluiu que “há prova da materialidade e indícios suficientes de autoria do crime de assédio sexual". Ractz foi indiciado pelo artigo 216-A do Código Penal — assédio sexual. O caso seguiu para análise do Ministério Público, que decidiu, em 5 de novembro de 2025, oferecer proposta de transação penal para o delegado. A promotora Mari Oni Santos da Silva afirmou na proposta que "o autor do fato é primário". Ela considerou os antecedentes do delegado e sugeriu que ele pagasse um salário mínimo para a vítima ou a prestação de serviços comunitários por dois meses.
Em 14 de novembro, o MP mudou a proposta: afirmou que, após analisar o caso, verificou que o delegado tem remuneração média superior a R$ 20 mil e, por isso, pediu que o valor a ser pago fosse reajustado para R$ 5 mil a favor da vítima. Uma audiência preliminar ainda deve ser marcada para que Ractz diga se concorda com a proposta do MP.
O chefe de polícia do RS, delegado Heraldo Chaves Guerreiro, afirmou que a polícia civil apurou o caso de forma ágil e enviou ao judiciário, que deve tomar agora as medidas cabíveis. Guerreiro disse ainda que não houve sanção administrativa interna sobre o caso de assédio. Em contato com a reportagem, Ractz negou os fatos e disse que "está sendo perseguido" pela denunciante.

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